sexta-feira, maio 28, 2010

Campeã Moral.

Frequentemente eu fico indignado com algumas coisas do futebol. Costumo escrever aqui de vez em quando sobre a arbitragem – e devo postar algo a respeito em breve.

Só que dessa vez vou falar de uma indignação que não é referente a nada dentro de campo nem com dirigentes. Estou indignado com a memória do povo brasileiro (pelo menos da parte que curte o futebol).

Sempre ouço falar da Copa de 1982, que o Brasil teria sido a melhor seleção daquela Copa – alguns exageram e dizem que foi a melhor de todos os tempos – e que merecia ganhar. Não vou discutir isso. Não concordo, mas não vou discutir.

Outros falam da seleção de 1998, que a final foi vendida pela Nike para a Adidas para que a França fosse a campeã dentro de casa e com isso o Brasil seria campeão em 2002 – tudo armado. Não sei se acredito nisso, mas sinceramente não acho relevante. Independente disso, o Zidane merecia aquela Copa mais do que qualquer jogador (inclusive que os brasileiros).

Os mais antigos ou mais informados falam da Copa de 1950, do Maracanazzo, e consideram a seleção brasileira injustiçada, colocam a culpa no Barbosa, outra coisa com a qual eu não concordo, mas...

Esses dias vi um comercial (não me lembro o anunciante) onde o Luís Fabiano aparece e a narração (nem sei se é do próprio) diz mais ou menos o seguinte: “Não é por 2010. É por 50, por 82, por 98”...

Vamos falar dessas Copas?

Em 1950 a gente perdeu em campo. Podia empatar e perdeu. Incompetência, não tem outra explicação. Menos mal que foi na final, ficou em segundo e tal e por isso é mais justificável o lamento.

Em 1982, pior ainda. A gente também podia empatar, mas era a segunda fase ainda. Ganhar aquele jogo não nos garantiria o título. A campanha, tão cantada por todos, começou com um jogo difícil e vitória por 2x1 sobre a extinta URSS (de virada depois de um frango ridículo do goleiro ridículo que o Telê escolheu), outra virada sobre a Escócia e depois uma goleada sobre a fortíssima Nova Zelândia – ou seja, uma campanha medíocre para uma equipe tricampeã mundial.

Antes que os defensores exaltem a vitória de 3x1 sobre a Argentina, vale lembrar que a Itália também venceu o time de Maradona. Mas os brasileiros entraram de salto alto na última partida da segunda fase contra a Squadra Azzurra. O Paolo Rossi estava inspirado e o Cerezzo ajudou com aquele passe açucarado. O resto da história todo mundo sabe.

A Copa de 1986 é citada de vez em quando, mas é fácil falar sobre aquele jogo contra a França. Porque deixaram aquele jogador pé frio, quando ainda estava frio (não foi um trocadilho) bater o pênalti? O jogo seria outro, a gente teria passado. O problema foi o pé frio.

Por que ele é pé frio? Exceto 1950, ele estava em TODAS as Copas que o Brasil poderia vencer e perdeu: 1982, 1986 e 1998!

Quer pior? Ele também estava em 1978! E é aqui que mora a minha indignação. Ninguém lembra ou lamenta a Copa de 1978 como lamenta as outras que eu citei.

Caramba! A única dessas todas que a gente perdeu fora de campo ou que não perdeu por incompetência. Começou com aquele jogo que terminou com a bola do escanteio cobrado pelo Nelinho ainda no ar. Aliás, alguém lembra quem cabeceou? E o pé frio sou eu, então?

Depois a Argentina comprou os Peruanos para aplicar aquela goleada que tirou o Brasil. A Seleção Canarinho foi eliminada da Copa sem perder nenhuma partida.

Em 1950, 82, 86 e 98 os jogadores tiveram chance de conquistar o título e perderam.

A seleção de 1982 foi a segunda melhor depois de 70? Não foi. As de 1958, 62, 94 e 2002 ganharam as Copas que disputaram, atingiram os objetivos – estas são as 5 melhores seleções brasileiras de todos os tempos, ao lado da de 70.

E se alguma outra merece crédito por ter perdido injustamente uma Copa do Mundo que tinha condições de ganhar, é a de 1978. Contra fatos não há argumentos.

quinta-feira, maio 20, 2010

"Bull(ying)shit"

“Um aluno da 7ª série do Colégio Santa Doroteia de Belo Horizonte (MG) foi condenado por prática de bullying (sic) contra uma colega de classe. A indenização, fixada pelo juiz Luiz Artur Rocha Hilário, da 27ª Vara Cível de Belo Horizonte, é de R$ 8 mil. A decisão é em primeira instância e ainda cabe recurso.”

Ouvi a informação na CBN hoje pela manhã, no programa “Liberdade de Expressão”, mas para transcrever (acima) fui buscar no Estadão (online).

Fiquei inquieto desde cedo com isso. Estava a caminho do escritório e tinha um dia cheio pela frente, então tive que esquecer temporariamente o assunto, pois não daria para chegar e ir buscar na internet que porcaria era esse tal de bullying.

O Google me levou até a Wikipedia: “Bullying[1] é um termo inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully - «tiranete» ou «valentão») ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender.”

Eu engordei depois que tinha saído da escola. Não era gordinho, ou baixinho, nem magrelo ou alto demais, não usava aparelho ou óculos de lentes grossas.

E estou fazendo uma força danada para lembrar dos meus colegas que eram qualquer coisa dessas. Não lembro.

Quer dizer, eu nem devo ter sido vítima e nem agressor. Não devo ter participado de um caso de bullying.

A verdade é que fiquei revoltado com a notícia. Na minha época – e eu não sou tão velho assim – não existia bullying.

Se existia, a gente se virava, sem ir para os tribunais. Na verdade, as coisas se resolviam com um irmão mais velho, um grupo de amigos, ou um encontro a dois nada romântico, marcado para a saída da escola. Esses assuntos nem chegavam aos pais – e se chegassem, aí sim o “Mané” viraria motivo de chacota.

Uma pena que as crianças e adolescentes estejam sendo incentivados a não resolver seus problemas sozinhos.

Nem sei o que dizer a respeito. É ridículo.

Saudades de Clarissa...

Eu sabia que seria assim. Confesso que não achei que fosse sentir tanta falta dela, mas sabia que terminaria logo. Uma pena.

No começo não parecia que chegaríamos tão longe. Ela estava ali, comecei a conhecê-la aos poucos, ainda menina. Até se tornar uma bela moça.

Chamou minha atenção sua linguagem, carregada de regionalismos e rebuscada. Tudo por causa de seu pai, um escritor gaúcho – daí a presença forte de regionalismos na sua fala.

Ela sempre falando da estância, dos guris, utilizando termos diferentes que deixavam a linguagem ainda mais bonita e os nossos momentos juntos ainda mais interessantes.

Normalmente era pela manhã, antes de trabalhar, que eu a encontrava. Ficávamos a sós e eu podia curtir na plenitude aqueles minutos.

Ela também sabia que terminaria logo. O tempo todo falava no dia da sua partida. Falava com freqüência sobre sentir saudades, sobre como seria depois que ela se fosse.

Enfim, por mais que a gente esteja preparada, despedidas são sempre tristes e deixam marcas.

Tenho certeza que ainda sentirei muitas saudades de Clarissa. E recomendo: Clarissa, romance de Érico Veríssimo. Leiam.