sábado, abril 24, 2010

Pesada...

Leio numa respeitada revista quinzenal que o Senado Federal está em fase final de apreciação para que uma medida que pretende limitar o IMC mínimo seja enviada à Câmara.

Não, você não perdeu nada. Não se trata de um novo índice econômico ou algo do tipo, então não fique tentando adivinhar o que é cada letrinha. Já vou explicar.

A proposta do nobre Senador capixaba prevê um limite mínimo para o Índice de Massa Corporal das modelos que vão desfilar em eventos de moda no Brasil. Visa combater males como a anorexia, que já vitimou meninas no país e no mundo todo.

Normalmente confio nesta revista, mas preferi ter certeza da notícia, e realmente existe um tal de PLS – 691/07 (Projeto de Lei do Senado, n. 691 de 2007) que trata o assunto.

Mesmo reconhecendo que o problema existe, a revista criticou o senador, afirmando que existem outros assuntos mais importantes a serem tratados no Brasil.

Eu não discordo da revista, mas acho que faltou um pouco de visão de futuro aos jornalistas que fizeram a crítica. Não se muda a legislação do país de uma hora para outra e, sinceramente, acho que este pode ser um importante passo para mudanças mais profundas e consistentes na legislação e na vida dos brasileiros.

A medida me dá esperanças de que seja usada como modelo (não é um trocadilho, juro) para outras. Com isso confio que, num futuro próximo, teremos uma lei que limite o Índice de Massa Encefálica mínimo para um candidato ser eleito, por exemplo. Não seria ótimo?

Parabéns, Senador!

Para você, Dudu!

Hoje você completou nove anos. Sabe o que isso significa?

Claro. Que você nasceu há nove anos. Mas significa muito mais para mim. Significa que há exatos nove anos eu sou uma pessoa melhor a cada dia.

Desde o primeiro momento, quando eu estava sozinho naquela maternidade e a pediatra me entregou um pedaço de pano embalando um pedacinho de gente, um pedaço de mim, uma vida nova nas minhas mãos, eu comecei a ser melhor.

E não é por mérito meu, não. É por você. Ser seu pai faz de mim uma pessoa melhor. Ser seu pai, conviver com você e ter que te ensinar as coisas me fez aprender muito a cada dia.

É isso mesmo. Aprender. Desde que você nasceu vem me ensinando muitas coisas.

Já de cara eu aprendi sobre beleza. Na hora que olhei para você, era a coisa mais linda que eu tinha visto na minha vida e ainda é. Só que essa impressão não está vinculada aos seus olhinhos negros, a boquinha bem feita, as bochechas fofinhas que eu via naquele momento. Essa beleza vinha de dentro de mim. Se você fosse uma criança feia para os meus olhos – e não era e não é – ainda assim, seria a coisa mais linda que eu já vi na vida.

Depois comecei a aprender umas coisas práticas, e a primeira delas foi que o primeiro cocô do neném parece uma graxa e pode ser facilmente confundido com xixi dentro da fralda. Você deve se lembrar dessa história. Sua mãe pediu para eu ver se estava com a fralda suja e eu coloquei o dedo dentro da fralda. Achei meio molhadinha, então resolvi pesquisar melhor. Quando tirei meu dedo, parecia que estava mexendo num motor de Scania, de tanta “graxa” que veio junto. Imediatamente eu aprendi também a trocar fraldas.

E de lá para cá foram muitos outros aprendizados.

Aprendemos juntos sobre a doença celíaca, e sobre como às vezes a gente dá uma importância muito maior a um problema do que ele realmente merece. E sobre como a vida de outras pessoas é muito mais difícil – e isso ajuda a gente a enfrentar nossos problemas, não é verdade? Aprendi que mesmo uma doença como a sua pode ser uma bênção. Tenho certeza que nossa família foi abençoada por você ser celíaco. Porque você é uma pessoa muito boa, uma alma muito especial, e poderia ter nascido numa família de ignorantes como a gente conhece, que não aceitam a doença, ou de pessoas sem condições financeiras sequer de identificar, quanto mais de manter uma dieta especial. Pois eu e sua mãe fomos escolhidos por Deus para receber, cuidar, manter saudável essa jóia que é você.

Aprendi outra coisa muito especial também, que para você não vai fazer muito sentido ainda. Eu entendi que as palmadas que a sua avó me dava e que eu achava que doíam muito, não doíam. Ou pelo menos, não doíam tanto em mim quanto doíam nela. Cada briga, cada vez que ela chamava a nossa atenção – e eram muitas, acredite – ela se machucava por dentro. Você não vai entender isso até ser pai, tenho certeza. Porque sua avó já tinha me dito isso e eu não entendia até você chegar.

Mas, Dudu, entre todos estes ensinamentos, o mais importante sem dúvida foi o amor. Esse amor de pai para filho, um amor completo, intenso, altruísta e egoísta ao mesmo tempo. Altruísta porque quero que você seja a pessoa mais feliz do mundo e vou trabalhar para isso incansavelmente. Egoísta porque quero você o tempo todo do meu lado, e às vezes não importa se você quer. É diferente. Não dá para comparar com nada. E isso é outra coisa que você não vai entender agora também. Aliás, é algo que não é possível entender, só sentir.

Por fim, quero te pedir uma coisa bastante egoísta como esse amor do qual acabei de falar. Como eu falei, ser seu pai faz de mim uma pessoa melhor a cada dia. Então, por favor, continue sendo essa pessoa mais que especial que você já é, aos nove anos, para que eu possa continuar me sentindo cada dia melhor por muitos e muitos outros.

Obrigado por tudo!

(Texto escrito ontem, 23/04/2010)

domingo, abril 18, 2010

Futebol e arbitragem - de novo.

Falei há poucos dias sobre arbitragem no futebol carioca e o Cláudio, torcedor daquele time, disse que meu texto foi tendencioso.

Pois bem, vou só tecer alguns comentários a respeito de notícias e jogos que vi hoje tentando ser imparcial.

O Ipatinga ganhou de 3 x 1 do Cruzeiro em Minas, garantiu vaga na final do campeonato mineiro, mas o presidente do clube ameaça não jogar as finais. O motivo? Revolta contra a arbitragem que teria prejudicado o time hoje. Isso mesmo. O time que venceu o jogo está revoltado.

Rogério Ceni, do São Paulo, reclamou do primeiro gol do Santos, alegando que o Neymar teria tocado a bola com a mão. Tenho dúvidas, e também acho que o Neymar foi empurrado no mesmo lance. Da mesma forma no segundo gol do Santos, o pênalti é discutível, mas num lance imediatamente anterior não era discutível e o juiz não marcou.

O Rogério, sempre muito sensato nas suas colocações, fez um comentário sobre a arbitragem que demonstra, no mínimo, pouco caso das pessoas que controlam esta parte do futebol no país. Segundo ele, o árbitro escolhido esteve suspenso há pouco tempo por conta de alguns erros cometidos justamente contra o Santos e a federação tinha outros nomes (e bons nomes) à disposição. Elegante, o goleiro e capitão do tricolor paulista disse que o juiz que entra nestas condições sente uma pressão muito grande. E encerrou dizendo que, além de jogar bola, o São Paulo precisa fazer muito politicamente se quiser voltar a ser campeão paulista.

Na outra semifinal do mesmo campeonato, o Grêmio Prudente abriu o placar contra o Santo André num pênalti bem marcado pelo árbitro. Mas o goleiro era o último homem e fez um pênalti grosseiro no atacante Flavinho. Chance clara de gol, último homem, falta na área... Cartão vermelho, certo? Não para o Sr. Rodrigo Braghetto, árbitro da partida, que deu apenas o amarelo. Um cartão vermelho para o goleiro titular aos 16 minutos poderia ter mudado o resultado do jogo.

Mas para mim a melhor de todas as notícias começa assim: “Título não tira irritação de Herrera com a arbitragem”. O argentino, atacante do Botafogo, foi expulso injustamente de campo logo após cometer o pênalti que consagrou o goleiro Jeferson, do mesmo time. Injustamente porque ele tomou amarelo ao cometer a falta, não tinha amarelo ainda e o juiz simplesmente tirou o vermelho, por causa da reclamação dele. Se tivesse mostrado um segundo amarelo e depois o vermelho, poderíamos achar normal, mas não foi assim.

Mesmo se desse o segundo amarelo, demonstraria falta absoluta de critério, como demonstrou, pois as reclamações do outro time também foram acintosas nos pênaltis que ele assinalou (os dois bem marcados e convertidos) e ninguém levou cartão por isso. Mas o Maldonado acabara de ser expulso por ter puxado e quase rasgado a camisa do mesmo Herrera e ele precisava “compensar”. Marcar o pênalti – que, aliás, foi bem marcado, realmente aconteceu – não era suficiente, ele precisava acertar a questão numérica.

Aliás, se o árbitro fosse coerente em seus critérios, o Ronaldo Angelim teria sido expulso também, pois antes do pênalti fez uma falta na entrada da área, por trás, típico lance de cartão. Depois fez o pênalti e levou amarelo corretamente – seria o segundo.

Mas vou parar de falar daquele time para não ficar parecendo implicância.

O que me assusta realmente é ter dois times em estados diferentes reclamando da arbitragem após terem vencido seus jogos. Não é uma questão de choro do derrotado, de querer culpar o árbitro pela derrota.

O Herrera ficar indignado depois do título e o Ipatinga ameaçar não disputar a final por conta de perseguição da arbitragem são situações surreais, como têm sido as atuações dos juízes de futebol por aí afora.

sábado, abril 17, 2010

Cuidado com o computador!

Hoje na capa dos dois jornais da Rede Gazeta (ES) destaque para um mesmo assunto: empréstimo pessoal para compra de armas de fogo.

As manchetes davam conta de financeiras que fazem empréstimos pessoais direcionados à compra de armas de fogo com prazo de até 72 meses para pagar. Em A Gazeta, a capa estampa o título: “Um perigo à prestação”(sic).

Em primeiro lugar é importante recolher o diploma do curso de jornalismo e o cargo, armas de alto poder de destruição da língua portuguesa, que entregaram ao repórter, editor, revisor e quem mais tenha visto essa crase mal colocada numa capa de jornal sem corrigir a tempo. Isso também é crime.

Na matéria, informações sobre como comprar, registrar, regularizar e tudo o mais que alguém que tenha (boa ou má) intenção de adquirir uma arma precisa saber.

Achei muito interessante ler que entre os pré-requisitos para a compra estão consulta com psicólogo, autorização da polícia e curso de tiro de, pelo menos, seis horas enter outros. Nada disso tinha realmente chamado a minha atenção até ler, no depoimento de um coronel da Polícia Militar, que o policial só recebe sua arma depois de oito meses de treinamento.

Ou seja, se eu quiser comprar uma arma, faço seis horas de curso de tiro e pronto. Um policial demora oito meses para ter uma – e a gente vê diariamente quão pouco tempo são estes oito meses!

Na verdade, o que me motivou mesmo a escrever sobre o assunto nem foi a matéria em si, mas tanta surpresa, indignação e alarde sobre o tema por parte dos veículos.

Ora, o porte de armas é permitido por lei no Brasil, bem como a agiotagem (ou tem outro nome para o que bancos e financeiras fazem?). Então, emprestar dinheiro para alguém comprar armas é normal e lícito. Proibir isso seria, sim, inconstitucional.

Como disse uma das entrevistadas, “fazemos o financiamento para armas como fazemos para (...) computadores, por exemplo”.

Será que isso é um aviso para nos preocuparmos mais com crimes digitais?

sexta-feira, abril 16, 2010

Na dúvida, faça errado.

Disse no último post que evito falar de política. Mas mesmo estando entre os assuntos que não devem ser discutidos, no futebol eu me arrisco.

E claro que vou falar de arbitragem, pois é a bola da vez em quase todas as discussões sobre o assunto atualmente.

Tem uma coisa que me incomoda profundamente nas arbitragens atuais, que é a marcação de impedimento. A FIFA determina que, na dúvida, árbitro e auxiliares devem privilegiar o ataque.

Aliás, essa história de chamar bandeirinha de auxiliar é ridícula. Pra quê mudar o nome? Bandeirinha é muito mais simpático. Vou ficar velho e chamando auxiliar de bandeirinha, igual aqueles antigos que ainda chamam goleiro de goalkeeper ou centro-avante de centralfor.

O que sei é que o ser humano não consegue identificar determinados lances de impedimento. Aí as câmeras e os comentaristas vêm em seguida e confirmam – acertou um lance muito difícil o auxiliar fulano de tal. Besteira! Errou. Errou porque ele não tinha certeza e preferiu dar o impedimento em vez de deixar correr conforme a orientação da FIFA. Uma perna de diferença, numa bola lançada há mais de 15 metros de onde os dois jogadores estavam, é claro que o bandeira não viu!

Mas eles insistem em marcar. E a minha revolta não é simplesmente por conta da marcação ou não de determinados impedimentos, mas é que a regra existe para evitar que o atacante tenha grande vantagem sobre o defensor. Ora, os dois saindo com trinta centímetros de diferença um do outro, por exemplo, não é uma grande vantagem. Mérito do atacante que corre mais que o zagueiro. Pronto. É um esporte. O atleta melhor condicionado TEM que ter vantagem sobre os outros.

Falando sobre o que ocorreu nas semifinais da Taça Rio (Botafogo x Fluminense e Vasco x o outro time), não vou discutir se o Herrera estava impedido ou se o Willians tocou a mão na bola – são fatos, a TV mostrou e não estão em dúvida. A dúvida é se o juiz viu.

No jogo do Botafogo e Fluminense, o lance foi escandaloso. O bandeirinha viu, o juiz viu, todo mundo viu. Não precisava de replay. Eles não souberam aplicar a regra – simples assim.

Na outra semifinal, tenho quase certeza que o juiz não viu a mão do Willians, apesar de este ter subido com a cabeça para um lado e o braço para o outro e de o Thiago Martinelli ter feito movimento com a cabeça para baixo e a bola ter subido. Mesmo assim, ele pode não ter visto.

A questão é: se ele não viu o lance do Willians, do qual estava muito mais perto, também não viu o primeiro pênalti, do Márcio Careca sobre o Léo Moura – que declarou depois do jogo que naquele momento “a experiência contou”.

No primeiro jogo entre as duas equipes este ano,o árbitro deixou de dar um pênalti envolvendo os mesmos jogadores no primeiro tempo. Assistiu ao lance na TV no intervalo e, no segundo tempo deu um jeito de compensar, inventando um pênalti a favor daquele time. Não tenho nenhuma dúvida que o senhor João Batista Arruda estava assistindo àquele jogo e, na hora que o lateral caiu na área, mesmo de longe e sem ter nenhuma convicção, marcou o pênalti, para não ter o mesmo problema que o colega enfrentou anteriormente.

Mas não resolvi escrever sobre futebol para reclamar da arbitragem contra o Vasco. Na verdade, existem lances que são de jogo e podem acontecer com todos os times. Não é só porque o Vasco ano passado foi eliminado da Copa do Brasil pelo Corinthians com um pênalti escandaloso do Chicão sobre o Élton não marcado, ou porque aquele time vem sendo descaradamente beneficiado nos últimos quatro campeonatos cariocas, ou ainda porque ontem, por exemplo, a arbitragem na Copa do Brasil mais uma vez (em menos de uma semana) tentou atrapalhar o Gigante da Colina. Não é nada disso.

O que me deixou realmente indignado com os acontecimentos recentes foi a declaração do responsável pela arbitragem do Rio de Janeiro, ao responder as acusações do Rodrigo Caetano, executivo de futebol do Vasco, que disse ter sido roubado. O senhor Jorge Rabello, presidente da Comissão de Arbitragem de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (COAF-RJ) rebateu as críticas do cartola vascaíno com a seguinte pérola: “E o pênalti do Fernando no Loco Abreu, na final da Taça Guanabara, não marcado?” citando outro erro escandaloso da arbitragem carioca, dessa vez beneficiando o Vasco contra o Botafogo.

Ou seja, na arbitragem do Rio e na lógica deste distinto senhor, um erro JUSTIFICA o outro. Plagiando Boris Casoy: É UMA VERGONHA!

domingo, abril 04, 2010

Bomba nuclear.

Tento na medida do possível evitar temas ligados a política. Não quero entender política. Quanto mais entendo, menos gosto.

Não gosto também de criticar o governo do Lula. Entre outras coisas, a manutenção da estabilidade econômica – que seria um grande desafio para qualquer presidente mas para ele, vindo da esquerda, era maior ainda – é um feito importante.

E o que me incomodou a ponto de falar do assunto aqui no blog nem está relacionado aos atos políticos ou econômicos do governo em si. Esses dias vi uma nota numa revista dando conta de que uma usina nuclear de Angra levará o nome do ex-presidente Geisel.

Não que seja novidade. O Lula parece ter abandonado as bases, as ideologias e as concepções que o criaram na política quando se candidatou da penúltima vez – a primeira que ganhou. As coligações que fez, com as pessoas que fez, são próprias da política. Mas não, eu não concordo. Principalmente de alguém que vem de onde ele veio, que contou durante toda a sua vida com o apoio do povo e dos trabalhadores. Acho, sim, que ele “traiu o movimento”.

No entanto, não quero entrar nesse mérito. Não tenho conhecimento suficiente para defender e sustentar nenhuma tese ou discussão a esse respeito.

Eu nunca fui um Petista e nem mesmo posso me considerar um cara de esquerda ou direita. Sou como milhões de brasileiros, e acho que sou errado. Mesmo assim, sem conhecimento e sem ser ligado à política não consigo achar normal e corriqueiro darem o nome do Geisel a qualquer coisa. Ainda mais no governo Lula!

Meu problema não é com o Geisel – ou não é só com ele. É com o comando militar e tudo o que ele representou e fez na época.

Na Espanha criaram uma lei que obriga a retirada de qualquer símbolo do regime franquista de vias públicas do país. Estátuas, imagens e até nomes de logradouros foram retirados ou mudados por causa desta lei.

No Brasil, um presidente que sofreu nas mãos da ditadura cria mais um símbolo que lembra o governo militar, dando nome de um deles a uma usina nuclear.

Alguns podem achar coerente dar o nome de um general da ditadura a algo que não deveria existir e que provavelmente não trará nenhum benefício ao país, mas o nome da usina é tratado como uma homenagem ao ex-presidente.

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